22 de set. de 2009

Artistas falam sobre decisão da justiça brasileira contra download ilegal



A decisão inédita no Brasil do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJ-PR) em favor das gravadoras contra o software de compartilhamento de arquivos (P2P) K-Lite Nitro, divulgada nesta sexta (18), pegou muitos artistas de surpresa.

Pela decisão, a empresa Cadari Tecnologia da Informação e outros, responsáveis pelo desenvolvimento e manutenção do K-Lite Nitro, estão proibidos de disponibilizar o software P2P, enquanto não forem instalados no software filtros capazes de evitar a troca ilegal de arquivos protegidos por direitos autorais.


A ação foi movida pela Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos (Apdif), que atualmente faz parte da Associação Antipirataria de Cinema e Música (APCM) e representa as cinco maiores companhias fonográficas do país - EMI, Som Livre, Sony Music, Universal Music e Warner Music.

“Como músico acredito que a música é livre para as pessoas ouvirem da forma que quiserem. Agora, do lado de quem trabalha na indústria, tem que haver um meio termo para que as pessoas que trabalham e vivem da música possam ser recompensadas pelo seu trabalho. Afinal, a música surge de muito trabalho, que envolve muita gente. Mas qualquer visão radical me soa um pouco descabida. Acredito que essa questão devia ser levada ao público. As gravadoras têm que entender que a tecnologia chegou, a internet está aí, e não tem mais volta. Como músico, não sou contra as pessoas baixarem minhas músicas de graça. Eu mesmo já disponibilizei minha música de graça, mas tive que me entender depois com a minha gravadora”. - Tico Santa Cruz (Detonautas).

“Sou favorável ao download livre, mas acredito que deva ter autorização dos artistas e autores [para a disponibilização]. Difícil de controlar. A juventude de hoje está super habituada a usar a internet. É uma pena que tenham que proibir. O ideal é que o artista assinasse um documento autorizando o uso de seu traballho na internet. Sou favorável ao download por acreditar que funcionem como um cartão de visitas do artista. É até antipático tentarem limitar isso. Acho que seria justo ter uma autorização dos artistas, ter um certo controle disso. Ano a ano aumenta a quantidade de download pago. Ás vezes até é cobrado um valor simbólico. Cabe o bom senso, de saber a hora de vender e a hora de ceder”. – Edgard Scandurra (Ira!).

Revelada pela internet, a cantora inglesa Lily Allen, que se apresentou essa semana no Brasil, declarou em seu blog ser parcialmente contra o download ilegal de músicas, em post publicado na segunda-feira (14).

A mensagem foi uma resposta à matéria publicada na semana passada no jornal britânico “Times”, em que integrantes de bandas como Radiohead e Pink Floyd – que formaram o grupo chamado Featured Artists Coalition – declararam-se contra o projeto de lei britânico semelhante ao aprovado na França que visa desconectar o usuário que fizer download ilegal.

Allen discorda da opinião do grupo, de que trocar arquivos pela internet “é como samplear, como gravar uma fita da coleção de um amigo”. “Essas fitas mixadas e gravações feitas do rádio são bem diferentes do compartilhamento de arquivos que acontece hoje. Fitas gravadas em casa tinham uma qualidade ridícula - você ia comprar o disco, porque gostava de uma faixa e queria ouvi-la sem ter um locutor falando por cima do final da música. No mundo digital, faixas pirateadas são tão boas quanto as compradas, por isso não há razão para procurar por melhor qualidade”, postou a cantora.

“Falando assim, até parece que estou do lado dos donos das gravadoras. Não estou”, garante a artista, preocupada com os futuros investimentos na indústria da música. “Mas à medida em que eles perdem muito dinheiro para a pirataria, eles não vão cortar os próprios salários – eles param de investir em direção artística”.

“É estúpido o fato de que adolescentes não podem comprar nada na internet, forçando-os a roubar o cartão de crédito da mãe ou baixar discos de graça. É sobre isso que os donos de gravadoras, artistas, provedores de acesso à internet e o governo deveriam estar discutindo”, completou.



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